12.3.09

daquelas histórias de que o inferno são os outros e outras coisas mais

Exorcizar demônios: é isso que a gente passa uma vida inteira para aprender ou, na melhor das hipóteses, arriscar saber. Aí, o discurso do balbuciar alemão, tomar sorvete e andar de bicicleta ao mesmo tempo ser a coisa mais difícil do mundo não faz muito sentido não. Complicado é a gente rejeitar de vez, sem risco de volta, desvio de rota ou retorno de caminho esse tipo de habitante.
Não saberia dizer a você - você mesmo que se encontra agora, aqui, lendo isso - quando a gente aprende, como acontece esse processo e o saldo de cicatrizes que essa remoção pode causar. Alisamos espinhos até quando não o sabemos: as necessidades humanas precisam disso, faz parte da dinâmica da gente - aprender, desde cedo, a crescer com os benditos.
Confesso que os embates vão se tornando cada vez mais constantes; são aproveitáveis, até. Mas cansam. Estafam. Maltratam. E não falo pelas cicatrizes que vão aparecendo não; cicatriz é marca que traz lembrança, e lembrança só existe se a gente permitir. Falo da cobrança existente a cada nova luta, a cada soada do gongo, a cada espera pelo resultado e, por muitas vezes, pela sua extrema necessidade de força quando é preciso lutar.
Falo de coragem, de necessidade de mudança, de descamação do camaleão, do pêlo crescente de um filhote, da renovação das folhas de uma árvore. Daquela mudança que vem aos poucos, aos pingos; quase imperceptível, microscopicamente observável, mas que traz consigo a coragem para gerar o que seria um começo de confiança em sí próprio, para, a partir daí, algum dia, levar a gente a confiar nos outros e nos seus demônios. Afinal, o inferno não são os outros, o inferno não é a gente; somos todos mapas-mundi habitáveis, também, por demônios. Aprendamos com eles seja lá o que for - expulsá-los, maltratá-los, alimentá-los, [...]