26.4.10

deus e o diabo na terra de quem mesmo?

O cheiro dele era tão bom nas mãos dela quando
ela ia deitar, sem ele. O cheiro dela era tão bom nas mãos dele quando ele ia
deitar, sem ela[caiof]
Começou assim essa coisa toda de sentir demasiadamente. assim como chuva fina que vai te pegando com um pingo aqui, outro acolá. assim como arranhão na pele crua onde a gente sente cada poro se rasgando, abrindo como se cada lado reivindicasse a sua parte do todo. assimfoi e assim sempre será. essa coisa doida de sentir tão intimamente tudo e saber que a relativização da linha tênue entre entre dor, espasmo, prazer ou excitação vai se tornar bastante comum logo, logo. pois bem, esquecendo disso por um instante, a gente pára logo ali na frente: quando se vê, lá mesmo, pagando aluguel, tomando conta do quarto principal, aquele mesmo com banheiro maior, cama macia, janela virada para a rua mais bonita, além da sorte de ter uma bandeja ali do lado, na cozinha, sempre com uma flor te esperando. aí a gente não sabe bem o que esperar do futuro. as dúvidas, as dívidas, os consumos exacerbados, a quantidade limítrofe do normal passa a andar na corda bamba e o medo de conseguir gostar cada vez mais de tudo isso. pânico poderia ser o nome do filme, você não acha? não cairia bem? - é, pode ser. [talvez]você me responderia[isso]. ou melhor: pânicoinstaurado. ok, não é hora para se discutir isso. o fato é que, amigo, você se encontra logo ali, no passo mais a frente do que você jurou que seria o mais radical que você faria - claro, quem mandou sempre renegar toda aquela adrenalina adolescente e os pedidos dos amigos para se juntar nas atividades radicais? - Pois bem, você está aí mesmo. talvez nem tenha percebido como o sentir demasiadamente te anestesiou de diversas coisas e pessoas e situações. e vários outros pontos que nós poderíamos ficar discutindo aqui durante toda a nossa existência, você não acha? é, aí seria demais. nada de novo. mas voltando... você percebe que chegou no ponto onde o pânico é só mais um coadjuvante nesse sentimento demasiado. quiçá, diria até um estimulante - o único que você realmente se permitiu durante a sua vida until now (visto que adrenalina nunca foi o seu forte, colega). é, mas que bela enrascada, visse? caíste na cama de gato que tu sempre armasse contra tudo e todos, inclusive contra a tua própria alma. ou vai me dizer agora que tu alguma vez já tentasse realmente permitir uma aproximação dela? tenha dó, vá. tenha logo esse dó e admita que você tá perdidinho da silvasauro nesse mundão novo onde o outro é ator principal, onde você não é mais sujeito individual e que você mudou até o hábito de não tomar café da manhã por conta da bandeja bonita com a flor vermelha que, de certa forma, chega todos os santos dias que você passa nisso tudo. que você admira como a flor chega mudada toda manhã. umas vezes pela quantidade de água colocada. umas outras tantas pelo sol que levou antes de chegar até o seu destino. no restante? talvez seja aquela coisa de adubar e tudo o mais... é só um chute, viu? porque, já sabe né, a gente não se mete a compreender a dimensão do significado das coisas quando elas são pesadas demais para a gente tentar de alguma forma significá-las mais ainda. imagine só o crime que seria isso. nome a gente dá para as coisas conhecidas. as desconhecidas ficam prontas para serem reinventadas, reinauguradas, renomeadas todo santo dia de meu deus. claro que em uns certos dias, os nomes podem até virem com prefixos e/ou sulfixos menos estimulantes. imagine só, até a flor pode vir menos altiva, quanto mais as palavras. o fato é que eu poderia ficar até amanhã ou depois ou logo depois também enumerando as diversas possibilidades que a gente tem diante do sentir demasiado. mas não vou não, visse? vou te poupar bonito. porque, ninguém merece ficar ouvindo sentimentalismo alheio quando o que a gente mais quer é ouvir aquele sentimentalismo ali, o que nos interaessa, aquele alimesmo naquela beira daquela janela, onde o cantinho mais próximo fica a alguns centímetros de distância - é, ali mesmo, onde a bandeja com a flor está devidamente posta, esperando só pelo acúmulo de sentimento do dia. tou pedindo demais, colega? claro que não tou. e você sabe disso. afinal, todo mundo tem um acúmulo de sentimentalismo - mesmo barato, mesmo banal, mesmo até ridículo - esperando só o momento de aparecer. e vou terminar te dizendo uma coisa séria, presta atenção: o danado é bom. mais ainda se vier com a carga de pânico e o sentimento de cordabamba e vento na cara e coisa no estômago e tudo o mais que a gente vai sentindocoisandoimaginandoeticeterando..
viu só como é facinho se desviar do foco? mas o foco não era mesmo o pânico disso tudo? meu deus, onde foi que eu me perdi? pro diabo tudo isso. nada mais demasiamente anestesiada. nem sei mais onde isso vai dar, em terra de de deus ou no inferno dos demais. deixa eu ir ali que a flor, o quarto e ... enfim. me esperam. me espere.