25.6.13

ponto cego

E dos seus olhos vazava luz.
Samarone



Não conseguia segurar a lágrima que teimava em escorrer; prendeu a respiração, ficou sem piscar num espaço de tempo em que aquele fotograma passava feito os milhares de vagões de um trem de carga, naquela mesma velocidade de quem tenta enxergar pelas frestas deles o foco de luz que se mostra, timidamente, a cada espaço de... quantos segundos mesmo entre um vagão e outro?  não importa. no fim, não existia vagão, trem, resquício de nada disso. existia, apenas, uma luminosidade estranhamente familiar. como se o que enxergasse ali, naquela reta luminosa, fosse o reflexo perfeito sempre buscado no espelho , na poça d'água, no retrovisor, tela do celular, enfim;  agora, o sol adormecia aos poucos, baixando a sua guarda, enquanto vazava luz em todas as direções. quando deu por si, momentaneamente, viu o que quase nunca conseguiu enxergar: o reflexo luminoso sempre deixava um ponto cego.

 e, nesse ínterim, dos seus olhos vazava luz.

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