27.12.08

tchibum nas emoções

Era toda essa coisa de mergulhar num abismo profundo, de braços abertos, cabelos esvoaçantes, vento no rosto e olhos fechados - que é para não afugentar as expectativas - que fazia com que ela acordasse suada e num pulo só da cama. Tinha os cabelos colados na cara, a respiração acelerada, o coração descompassado e uma falta de ar que não chegava a ser sufocante, mas, que assustava, assustava.

Esse medo descabido e latente das emoções que a atormentava justamente como era quando ela tinha dez anos e tinha que subir numa árvore qualquer ou escalar um muro para acompanhar a brincadeira das outras crianças. Acompanhar, ela acompanhava; de olhos cerrados, dentes trancados, força motora a 100% e pensamento no anjo da guarda, única oração que conseguiu aprender mesmo. E agora, tudo voltava à cena: aquela sensação de desespero e angústia pela negação do presente e os quereres de um após tudo isso, que sabe-se lá se tem futuro denominar isso de futuro, entende? Entende.

Aí, ela levantava e ficava em frente à cama, como quem tenta refazer tudo dentro das suas possibilidades, no caminho das linhas da palma da sua mão, na cadência normal dos seus passos. Suavemente, ela recria a oportunidade perdida minutos antes: dá um tchibum na sua cama, dá um tchibum nas suas emoções. Afinal, a madrugada ainda estava ali, bonita, reinante, só esperando a hora certa para que ela voltasse a acordar do mesmo sonho, e, mais uma vez, fizesse a sua escolha.

Ela? Dessa vez, escolheu entrar no acaso e amar o transitório. Sim, Carlos Pena Filho, entrar no acaso e amar o transitório.

3 comentários:

Adriana Godoy disse...

"Dessa vez, escolheu entrar no acaso e amar o transitório". É isso, não precisa de mais nada. Belo texto. Beijo.

Nathália. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nathália. disse...

O transitório sempre me foi mais atraente. Até que chegou um demorado que insiste em ficar aperriando o querer da gente.

feliz natal atrasado, colega.
=**