16.11.08

alguns tormentos

Não satisfeita em
ser totalmente riscada por dentro, ou, na melhor das hipóteses, quase uma zebra,
ainda assim, mantinha uma estranha mania de se pintar por fora.
Os arranhões que,
uma vez estando internamente, ficavam protegidos de agentes externos, que,
possivelmente iriam causar mais dor e agonia, agora apareciam a olho
nu.
Vez ou outra, ela
inventava de se arranhar. Ela mesma. Coisa simples: esperava suas unhas estarem
grandes o suficiente para causar o estrago previamente super calculado, e o
fazia. O fazia como quem sabe o que está fazendo, como quem se machuca sabendo
que o faz e, pior, porque o faz. Ela era auto-destrutiva. Era a única
resposta.
Primeiro um braço.
Depois o outro. O rosto. Não, não, o rosto não. Agora não. As lágrimas vão fazer
arder mais ainda. Preciso sofrer mais para poder aguentar essa ardência. Agora
tem que ser as pernas. Aí, sim, vou para o rosto. Porque aí, não vai restar mais
nada: tudo já vai estar riscado, sem chance de sobrar algum lugar limpo, sem
dor, sem marcas. E, só assim, eu vou saber que está tudo acabado. Porque, quando
já não se tem mais lugar para ir, o que se fazer, é chegado o fim. Não é assim
que te ensinam? Pelo menos foi assim que me ensinaram. E foi a única coisa que
aprendi.
Simples assim:
como dois mais dois são quatro.
Ela repetia
em tom ameaçador, enquanto fazia o que tinha que ser feito:
- Não se perca de si mesma.
E assim, ia
seguindo. Era só o tempo das feridas criarem casquinhas, aí ela vinha e fazia
tudo denovo. Ciclo vicioso. Passou muito tempo da vida fazendo e refazendo isso,
até que um dia, parou de se arranhar, mas continuava repetindo a mesma frase de
sempre: - Não se perca de si mesma.
Tinha se
perdido dela mesma; pelo menos por enquanto.



3 comentários:

Clareana Arôxa disse...

Um dia, ela vai entender que nada é uma questão de achar ou perder.

Nathália. disse...

acho que isso é sempre o mais difícil: não se perder de si mesma.

beijo, coleguis.

Sunflower disse...

acho que essas pessoas que se riscam ainda não entederam ou não aceitaram que ela não podem escrever a vida, que é a vida que se escreve na gente. Não adiante se riscar, não muda. nunca.

beijas

ê família pra escrever bem!