8.11.08

[mariposa de] sueño.

ele não sabia muito bem como foi que acordou com aquela frase feita na cabeça.
porque, parecia coisa de filme, daqueles waking life da vida: de acordo com o roteiro, ele acorda com uma frase estampada no breu que aparece quando ele se dá conta que está acordando mas ainda mantém os olhos fechados. (sabe como é, né?)
pois bem. é isso mesmo.
aí, ele abre os olhos, repetindo a frase mentalmente, sem muita energia ainda para tentar um movimento de boca, pega o papel que está na mesinha do lado da cama e escreve as palavras, como quem ainda não sabe bem o que está acontecendo ou o peso que aquilo tudo pode ter. na verdade, ele só intui qualquer significado besta, a princípio, e, por isso, resolve registrar tal acontecimento. é que, a gente sempre ouve por aí que fulano sonhou com o número que foi sorteado na megasena, ou que sicrano sonhou com um boi e apostou no jogo do bicho e levou uma grana danada, entre outras lendas urbanas, né?
então, ele fez isso. anotou com um rabisco rápido, em linhas tortas, sem se importar muito com a forma que escrevia. afinal, eram seis horas da manhã de um sábado, e ele tinha sido acordado por uma frase. uma frase. uma frase?
é, até aqui parece realmente um roteiro de um filme/curta ficção. quer dizer, qualquer coisa menos realidade.
quem é que acordaria com uma frase? as pessoas, aquelas que têm o sono leve, acordam com barulhos, ventos fortes, esse tipo de coisa quase-bruta-mas-não-tão-bruta-pra-não-ser-meio-abstrata-mas-também-nem-tão-abstrata-pra-ser-realmente-abstrata. mas uma frase?!?!??!?!
nesse meio tempo, seu coração já tinha começado a bombear sangue suficiente, a adrenalina já corria normalmente, tudo trabalhava. e ele não tinha mais como se refugiar no sono que tinha sido interrompido; isso já tinha se esvaído.
aí ele se virou, como que numa tentativa de ignorar aquilo que estava escrito no papel. virou as costas, fechou os olhos, puxou o lençol para mais perto e pronto, se jogou. se jogou mesmo, como quem se atira desesperadamente pra frente quando vai atravessar uma avenida movimentada e calcula de forma bem desajeitada a distância/velocidade do carro que está vindo, e se joga, achando que tudo está certo e que vai ocorrer do jeito que se pensou. mas se jogou onde?
se jogou no abismo que se formava dentro dele: parecia que tudo tava juntoemisturado numa via de mão única, que levava diretamente ao lado esquerdo do peito. não adiantava disfaçar. era isso mesmo. isso mesmo.
finalmente, quando resolveu se levantar, sentindo umas pontadas do lado esquerdo do peito, pegou o papel, uma xícara de café, caminhou até a janela da frente e leu em voz alta o que tinha escrito, meio com dificuldade, já que a letra não ajudava muito:


- eu tou com saudade.


só restou um riso. e dois, e três.

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