23.11.08

como eu me apaixonei


Dias atrás, presenciei uma amiga agoniada entrar na sala, batendo porta, sentando, parecendo estar sufocada de coisas. Ela ia ficando cada vez mais vermelha, os olhos bem marejados, totalmente marinhos. Até que não se agüentou e começou a chorar e a contar o que tinha acontecido.
Assisti a cena admirada. Não pela agonia dela, e sim, pela capacidade de externar sentimentos.
É que, assim, eu nunca fui muito boa nisso não.

Mainha conta até hoje que, quando eu era pequena, aprontava as maiores coisas do mundo, e, na hora de apanhar - quando o caso era realmente sério, como foi quando colei chiclete na franja do meu irmão e cortei a metade dela - eu corria e escolhia uma sandália bem acolchoada, aquela que eu achasse que ia doer menos. Essa era a forma de eu tentar me safar 'inteligentemente' da situação sem deixar de receber a minha punição - é que minha mãe sempre fez questão que eu e meu irmão tivéssemos noção de
responsabilidade e consequências diante dos atos. Aí, claro, eu sempre pegava a mais 'molinha', sabe?
Nunca na minha vida pegaria uma sandália de couro. ATÉ PARECE.
E aí, apanhava sem derramar uma lágrima. Parecia coisa de criança ruim mesmo: trancava os dentes, prendia todo o sentimento do lado de dentro e ia ficando vermelha, como quem sabe que os sentimentos pareciam querer escapar por todos os buraquinhos, todos os poros. E aí, ficava concentrada nisso. Só nisso.
Apesar de eu acreditar, por muito tempo, que essa era uma das minhas qualidades - tinha aprendido a sofrer as consequências dos meus atos - sabia que, na verdade, isso era mais para mascarar um defeito que considero tremendo: meu orgulho. Sempre fui orgulhosa, sempre.E, por muito tempo, quis acabar com isso. Tinha vergonha as vezes, porque isso me atrapalhava demais quando eu queria externar certas coisas. Esse orgulho impedia.

De uns tempos pra cá comecei a perceber que venho mudando aos poucos, aos pingos. Tive um hiato imenso que me impossibilitou de escrever o que eu queria, quando eu queria, como eu queria. E eu fiquei agoniada, com tudo preso aqui dentro. Porque as palavras eram a única coisa que me faziam externar tudo. Sempre foi assim. Orgulho perto delas era apenas uma palavrinha a mais do dicionário, bem insignificante diante de todo o conjunto das outras.

Se a gente não consegue dizer o que tem para dizer ou o que gostaria de dizer, como tudo fica? já parou pra pensar nisso?
Por isso que, quando paro para pensar no quanto gosto de escrever, eu fico feliz só em pensar nessa minha história de como me apaixonei pela escrita.



P.S.

Perceba na foto acima a franja do meu irmão cortada. E perceba, também, o tamanho da criança que ainda aprontava - leia "eu" aqui. :)

7 comentários:

Unknown disse...

hahahahahahahahhaa, meu deus do céu! Destruisse a franja de thiago! só reparei quando tu escreve no final. Tu não presta desde pequena,né (!)

Nathália. disse...

Eu sempre fui uma criança mais performática. Sofria, gritava, esperniava, mesmo se nem tivesse doendo.

É daí que vem a minha mania de cavar bueiro. Mesmo quando nem tá doendo tanto assim, eu acredito que tá. Só assim que dá pra sofrer um bocadinho.

p.s. a foto tá ótema. ahahahahahhaahah

j. disse...

ô moça, fiquei feliz com o seu comentário! :)
volte sempre, a casa é sua.
gostei daqui também... vou ler tudo com calma. Te adicionei também!
;*

Sunflower disse...

Eu sinto tudo, e mostro, é como se euj nem tivesse pele, só sentimento.

Bora somar e dividir por duas?

beijas

Anônimo disse...

eu também sou assim. não escrever às vezes até sufoca, preciso disso como válvula de escape, nem que seja só para dialogar comigo mesma, pôr as idéias em ordem.

hahahahaha, muito boa a franja e a banguela de salomão! xD

Camila Meneghetti disse...

Eei, adorei seus textos, eu leio eles e não me canso, meus olhos estavam ardendo de sono mas queria continuar lendo. Parabéns :)

Unknown disse...

Meu amor
Esse foi o meu presente de aniversário, saber, e conferir, as postagens do seu blog.
Amo ler seus textos, me transportam a maravilhosos anos de minha existência.
Nunca pare de escrever, continue tentando externar seus sentimentos e serás muito mais feliz.
Te amo muito.